“QUANDO COMECEI A GANHAR DINHEIRO COM O FUTEBOL, NOS PRIMEIROS TRêS MESES METI TUDO DEBAIXO DA CAMA E TODOS OS DIAS IA VER SE ESTAVA Lá”

Desde que se tornou profissional, José Embaló já passou por 13 clubes, dois deles em Portugal, o Casa Pia e o Beira-Mar. Filho de guineenses, é o último de 11 irmãos e o único que nasceu em Portugal. Aos 13 anos, ficou órfão de mãe e de pai no espaço de oito meses. Entrou em choque, mas os colegas da escola ajudaram-no a voltar à vida e ao futebol, a sua tábua de salvação. Formou-se no Casa Pia, estreou-se como sénior em Chipre e de lá para cá viveu inúmeras aventuras pelos nove países onde já jogou. Nesta primeira parte falamos sobre o início deste atribulado percurso

Nasceu em Lisboa. É filho de quem?

Os meus pais eram guineenses. O meu pai contou-me que eu vinha na barriga da minha mãe quando eles vieram para Portugal. Ele era mecânico e uma pessoa muito versátil, trabalhou nas obras e fazia vários biscates. A minha mãe era dona de casa, quando eu nasci ela já tinha um problema de saúde que ao longo do tempo foi-se agravando, tinha cataratas nos olhos, asma agravada, não podia fazer muita atividade, não conseguia trabalhar.

Tem irmãos?

Somos 11.

Isso é uma equipa de futebol.

[Risos] É. E eu sou o guarda-redes, porque sou o último, o mais novo [risos]. Os meus irmãos nasceram e estão todos na Guiné. Tive oportunidade de conhecê-los quando lá fui em 2005/06. Foi só aí que os conheci a todos.

Refere-se aos seus pais sempre no passado. Já faleceram?

Sim. Quando eu tinha 13 anos perdi os dois, com uma diferença de oito meses. A minha mãe morreu em junho de 2005 e o meu pai em fevereiro de 2006. Foi muito duro. Na altura os meus pais já estavam separados e eu vivia com o meu pai. A minha mãe faleceu em Queluz, num incêndio. O meu pai faleceu numa viagem que fez à Guiné. Lá ficou. Eu na altura fiquei em Portugal com um tio paterno.

Como soube da notícia da morte da sua mãe?

Lembro-me que estive o dia todo a jogar à bola, e quando cheguei a casa do meu pai, vi-o um pouco cabisbaixo, a ver televisão. Perguntei o que se passava e ele no início não queria contar. Mas insisti, nunca o tinha visto assim. Ele acabou por dizer: “Houve um acidente hoje na casa da tua mãe, um incêndio, a tua mãe faleceu”.

Qual foi a sua reação, recorda-se?

Lembro-me de ter ficado a olhar para o nada durante uma hora sem conseguir falar. Estava em choque, e lembro-me do meu pai dizer que no dia seguinte tínhamos de ir à igreja muçulmana, porque eles eram ambos muçulmanos. Mas o choque maior foi a morte do meu pai porque eu era muito mais ligado a ele. Embora, mãe é sempre mãe.

O seu pai faleceu como e quem lhe deu a notícia?

Sabe que quando somos muito ligados a uma pessoa, conseguimos sentir logo à distância que algo aconteceu. Lembro-me de na terça-feira estar a andar na rua e a pedir às pessoas para me darem €1 ou 50 cêntimos para fazer uma chamada para a Guiné. Fiz a chamada numa cabine telefónica, e senti, pronto, “já consegui falar com o meu pai, o que tiver de acontecer”... Tive esta sensação. Na sexta-feira de manhã, quando um tio veio bater à porta, a primeira coisa que eu disse quando abri, foi: “O que aconteceu ao meu pai?”. E ele disse: “Ele faleceu hoje, infelizmente”.

A sua reação depois foi idêntica à que teve quando soube da morte da sua mãe?

Eu acho que o choque foi maior porque fiquei uma semana sentado no mesmo sofá. Lembro-me que os meus colegas de escola foram todos lá a casa dar-me ânimo e só aí é que consegui reagir, quando vi toda a gente. Aí comecei a digerir melhor e a sentir muito apoio dos meus colegas do 6.º F, da Escola Azul Almeida Garrett, em Alfragide. Foram fundamentais. Até hoje lhes digo: “Se não fossem vocês, acho que nunca sairia daquele sofá”.

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