WILLIAM SALIBA, O IRON MAN DA FRANçA QUE FOI TREINADO PELO PAI DE MBAPPé E PARA QUEM TUDO DEMOROU SEMPRE ALGUM TEMPO

Foi treinado pelo pai de Mbappé, andou na escola de Mbappé, brincou em casa de Mbappé. William Saliba não teve uma ascensão relâmpago como o amigo. Demorou a afirmar-se no Arsenal e na seleção francesa, mas nenhuma das equipas abdica de ter a versão mais recente do central que já em jovem sabia pedir desculpas quando errava. É por ele que Portugal terá que passar para marcar golos à França

Uma onda no mar, um grão na areia, uma árvore na floresta. Fica difícil ser-se diferente quando se é só mais. E William Saliba estava disposto a demonstrar que não era só mais um. Demorou o seu tempo. Teve que, por vezes, seguir num caminho paralelo ao que tinha imaginado. Tudo valeu a pena agora que chega aos quartos de final do Euro 2024 como totalista na França.

Os gauleses arrastam uma sequência de 10 anos sem perderem um jogo na fase a eliminar de um Europeu ou Mundial em 90 minutos. William Saliba ainda não tinha idade para estas andanças. Aliás, nem no Mundial 2022 o central era uma certeza da seleção gaulesa. No Catar, jogou apenas 27 minutos num encontro da fase de grupos em que os franceses já estavam apurados. No fundo, migalhas para um dos elementos preponderantes do sucesso defensivo dos bleus no Euro 2024.

Na última grande competição em que participou, entre centrais e jogadores que podiam ocupar a posição, tinha pelo menos cinco colegas à sua frente na hierarquia. Nesta altura, é um dos elementos do setor defensivo de que Didier Deschamps não está disposto a abdicar. E o treinador nem sempre morreu de amores pelo jogador. Em março, na última janela internacional, antes do Euro, o técnico disse que, apesar de ter assistido à “boa época” que o central realizou no Arsenal, via Saliba “fazer coisas de que gostava um pouco menos”.

A perceção pode trair a memória, mas Saliba está ligado contratualmente aos gunners desde 2019. Os sucessivos empréstimos – ao Saint-Étienne, ao Nice e ao Marselha – mantiveram-no longe da Premier League durante mais algum tempo. A integração na equipa principal, pela mão de Mikel Arteta, correspondeu com as duas épocas em que os londrinos terminaram em segundo lugar no campeonato e, legitimamente, lutaram pelo título até ao final.

William Saliba tinha vários motivos para estar a precisar de descanso numa altura do ano propícia a isso mesmo. O jogador de 23 anos participou em 50 dos 52 jogos do Arsenal em todas as competições, sendo substituído em apenas um. No que à Premier League diz respeito, não se poupou um único minuto, escapando até aos cartões a que os defesas estão muitas vezes expostos. Num clube com vários ídolos franceses, Thierry Henry e Arsène Wenger os principais, este Iron Man merece pelo menos um elogio por se tratar no primeiro jogador de campo do emblema 13 vezes campeão inglês a ser totalista na Premier League.

Demorou a solidificar o estatuto no Arsenal, equipa com a defesa menos batida da última época na liga inglesa. O mesmo aconteceu na seleção. Aprendeu assim que esperar é virtude e não desprimor.

A adolescência em casa de Mbappé

Saliba cresceu em Bondy, nos arredores de Paris. Filho de pai libanês e mãe camaronesa (ambos já faleceram), começou a jogar no clube local. Tentou a sorte nas academias do Paris Saint-Germain, do Auxerre e do Le Havre. Não deu nas vistas em nenhum dos testes. No Bondy, quem o treinou chama-se Wilfried Mbappé. “Ele foi o meu treinador durante uns anos. Era um verdadeiro treinador. Ensinou-me tudo e se estou aqui hoje é graças a ele”, disse o defesa ao “Le Populaire”.

Sim, Wilfried é pai da figura da família que mais longe levou o apelido. A convivência com o Sr. Mbappé não ficava apenas no campo. William e Kylian andavam na mesma escola. Os tempos livres eram passados em casa do atual capitão da França. Talvez Saliba tenha aspirado o talento espalhado pelo chão, porque, mesmo demorando, também teve oportunidade de chegar ao topo.

Depois de uma passagem pelo Montfermeil, ingressou nas camadas jovens do Saint-Étienne. Ao mesmo tempo, passou a integrar as seleções jovens de França. Reconheciam-lhe o carisma e a capacidade de pedir desculpa quando errava. A versão que o Euro 2024 está a conhecer é reflexo de todas as vezes que foi corrigido.

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