O SHOW DE DIOGO COSTA, A PóLVORA SECA DE CRISTIANO RONALDO E O QUE SE PERDEU COM A SAíDA DE VITINHA: OS NúMEROS DO PORTUGAL-ESLOVéNIA

O capitão da seleção nacional encaminha-se para quebrar um recorde (negativo) com 20 anos. Perante a desinspiração de Cristiano Ronaldo ao longo do Euro 2024, Diogo Costa teve que realizar uma exibição histórica para colocar Portugal nos quartos de final. Nunca na competição alguém conseguira proteger a baliza durante 120 minutos e ainda nas grandes penalidades antes do guarda-redes do FC Porto. Depois, o problema habitual da equipa portuguesa: gerar oportunidades de golo proporcionais à posse de bola

Qualquer ato que se torne numa estatística tem guardado no bolso um punhado de incerteza quanto ao sucesso ou insucesso da respetiva ação. Pode ser um passe, um remate, um drible ou um corte. Por meros segundos que demore a espera, é sempre preciso deixar escorrer algumas migalhas de tempo para avaliar as consequências de cada gesto. Ainda são as mnemónicas que se dá ao corpo para replicar em jogo o que acontece no treino que conferem um lado previsível a tudo isto. Mas a janela é estreita para, dentro do campo, o relvado não confiar no instinto de sobrevivência.

Por isso, a soma de três nomes foi a solução mágica para Portugal se apurar para os quartos de final do Euro 2024: Diogo Meireles Costa.

O guarda-redes do FC Porto tornou-se o primeiro a fazer três defesas num desempate por grandes penalidades de um Europeu. E mais: nunca antes nos arquivos da competição alguém tinha evitado que as redes pescassem sequer uma bola quando aos 120 minutos de jogo se juntam os decisivos pontapés da pintura colocada a onze metros da linha de golo.

Os números evidenciam padrões e alguns dos comportamentos de Portugal já tinham sido confirmados antes do jogo com a Eslovénia, daí que o impulso de Diogo Costa tenha sido o fator-X.

A seleção nacional voltou a ter a bola por (muito) mais tempo do que o adversário. Segundo a UEFA, os números finais da posse de bola favoreceram os jogadores de Roberto Martínez (68%) em relação aos eslovenos (32%). Entre os pés dos jogadores portugueses pingaram 695 passes – registo díspar face ao adversário (193) –, sendo que apenas 78 foram direcionados ao último terço.

As brechas no bloco esloveno eram poucas para que tanto volume ofensivo entrasse em zonas de definição. Gerou-se um efeito de entupimento que 30 ações dentro da área adversária, de acordo com o portal GoalPoint, não foram capazes de resolver. Tudo somado, a UEFA não atribuiu a Portugal mais do que apenas uma oportunidade clara (excluindo a grande penalidade de Cristiano Ronaldo), o mesmo número que a Eslovénia.

Portugal foi tentando por várias vias alcançar o golo. Das 17 faltas cometidas pelos eslovenos que resultaram em cinco cartões amarelos, a seleção nacional permitiu que Cristiano Ronaldo cobrasse quatro livres diretos, todos eles sem sucesso. O capitão português atingiu os 60 livres diretos tentados em fases finais de Europeus e Mundiais. Apenas por uma vez, no Portugal-Espanha do Campeonato do Mundo de 2018, concretizou uma chance desse tipo - é o equivalente a uma taxa de acerto de 1,7%, segundo a Opta.

De resto, a pólvora seca tem impedido Cristiano Ronaldo de enviar qualquer projétil para o fundo das redes. O avançado do Al Nassr é o mais rematador do Euro 2024, com 20 tentativas de visar a baliza, e não leva qualquer golo. Está muito perto de conseguir mais um recorde, mas este não vai ser um daqueles que gosta de enaltecer: desde 1980, apenas quatro jogadores tentaram mais remates sem marcarem. Deco lidera a lista com 24 tiros sem sucesso no Euro 2004.

A dose de paciência necessária em ocasiões onde o bloco defensivo contrário complica a tarefa aos homens do ataque foi posta em causa por Roberto Martínez aquando da saída de Vitinha.

O jogador do Paris Saint-Germain, nos 67 minutos em que esteve em campo, foi o jogador com maior eficácia de passe (95%) entre os titulares de ambas as equipas, a par de Bernardo Silva. O médio de 24 anos evidenciou-se ao nível da distribuição média/curta, errando apenas três dos 55 passes que arriscou. Por sua vez, Bruno Fernandes foi quem mais vacilou das escolhas iniciais do treinador espanhol (76% de eficácia no passe) ao longo dos 129 minutos que o encontro demorou antes de ser decidido nos penáltis.

Graças à exuberância de Diogo Costa nas poucas, mas decisivas, situações em que teve que intervir, Portugal vai ombrear com a França por um lugar nas meias-finais.

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